Casas de praia são um sonho para muitas pessoas que desejam momentos de descanso e lazer ao lado de amigos e familiares e até mesmo para pessoas que optam por este estilo de casa para moradia. Recentemente recebi através do Homify duas propostas de clientes para construir em terrenos próximos ao mar, um para descanso e outro para moradia. Com essas duas propostas em mente, aliado à minha experiência ao trabalhar com alguns arquitetos de Salvador em Casas de Praia, resolvi escrever sobre cinco cuidados essenciais, ainda em fase de projeto, que nós arquitetos devemos ter e que possam promover uma maior durabilidade do imóvel que está localizado próximo ao mar. Todos itens aqui abordados tem por objetivo promover a proteção da casa contra a corrosão e demais desgastes provenientes da combinação do salitre com o excesso de umidade característicos da nossa região litorânea. Veja abaixo a lista que montei e que podem nos ajudar a nortear as decisões de projeto para Casas no Litoral com este foco na durabilidade e que de certa forma se inter-relacionam:
Promoção da Ventilação Natural: A ventilação natural em casas de praia não é uma preocupação apenas para o conforto térmico das pessoas que estarão na casa ou um cuidado para a economia de energia que por si só já seriam argumentos suficientes para adotar esse tipo de solução, mas, promover a ventilação natural também irá fazer com que os ambientes internos fiquem menos úmidos e, portanto, evitaremos a condensação do ar que leva à união da água aos componentes da maresia (sulfato, cloreto e demais agentes) que favorecem a deterioração dos materiais presentes nos espaços internos. Consequentemente, ambientes naturalmente úmidos como cozinhas e banheiros devem receber atenção especial no quesito ventilação natural; e existem inúmeros recursos que aprendemos na faculdade como o uso da ventilação cruzada, a promoção do Efeito chaminé (Efeito que o ar quente, menos denso que o ar frio, sobe criando uma circulação de ar interna), uso do pé-direito mais elevado, estudo da carta solar, dentre outros recursos. Formalmente, além das aberturas nas paredes como janelas, basculantes e cobogós podemos usar venezianas nas portas e até mesmo criar aberturas através da cobertura com o uso de duomos, shafts, pérgolas e o que mais a criatividade e técnica permitirem.
Neste projeto dos arquitetos Múcio Jucá e Noé Sérgio podemos ver o combo pé-direito elevado, mais ventilação cruzada com uso de muitas portas e cobogós e a promoção do efeito chaminé pela abertura do telhado.
Estrutura: A estrutura em madeira certamente vem sendo uma opção escolhida há anos nos ambientes de praia pois a madeira não enferruja e o uso de verniz náutico, aplicado uma vez ao ano, pode ser suficiente para mantê-la em bom estado ao longo do tempo. Além disso, todos os encontros podem ser feitos com encaixes, bites e montantes do mesmo material como mostra a arquitetura vernacular evitando a corrosão de ferragens. O cuidado básico é certificar-se da procedência desta madeira exigindo o Documento de Origem Florestal no caso de madeira nativa ou a certificação FSC Brasil para as madeiras de reflorestamento como o Eucalipto e o Pinus. Veja no exemplo esta casa de Praia feita por Vidal e Santana e clicada por Fran Parente, divulgada no Archdaily
O concreto armado é normalmente uma opção de estrutura muito usado no Brasil como um todo, porém, ao estar em meio agressivo, essas estruturas deverão ser mais espessas do que o de costume para promover a maior proteção da armadura conforme orienta a NBR 6118:2003, que determina as exigências básicas para projeto de estruturas de concreto. Além disso, o cimento utilizado nas condições de alta salinidade devem ser mais resistentes e quando aparentes, receber vernizes ou demais sistemas protetores específicos para evitar a penetração do cloreto. Esta reportagem da Techine traz mais detalhes sobre esses cuidados e outras informações sobre a execução. Uma escolha que não deve ser descartada é a construção com tijolos, também chamada de olaria e as construções com solo como o pau-a-pique e a terra batida (quantidade de conteúdo para outras postagens do blog!) e a mistura de soluções adequando a assim às escolhas estruturais às demandas do projeto como este projeto que junta a laje de concreto nervurada às colunas de olaria projetadas por Babi e Tomaz Teixeira e vinculada na Casa Vogue.
Cobertura: a decisão de usar uma cobertura que tenha beirais generosos e componham ambientes avarandados além de ser um charme para a construção e proporem espaços de descanso com uso de redes e sofás são essenciais para criar uma espécie de proteção física aos ambientes mais íntimos e que possuam eletrônicos como a televisão, por exemplo, favorecendo a ventilação natural e ao mesmo também protegem os elementos construtivos (pilares, vigas e alvenarias) da maior parte da incidência do sol e chuva aumentando assim a durabilidade desses materiais. Os beirais generosos são também excelentes aliados no conforto térmico da residência e podem ser complementados com o uso de pergolados como aparece nesse projeto de João Conrado e Gabriel Ceravolo e foto de Tarso Figueira em repostagem na Casa e Jardim.
Esquadrias: as esquadrias de madeira, assim como foi citado no item 1, também é uma solução bastante difundida no Brasil e usada há anos. Sua linguagem pode ser renovada trazendo painéis de brise que promovam a ventilação ao mesmo tempo que protegem do sol. O Ferro e alumínio devem ser evitados por terem sua durabilidade extremamente comprometida nesses ambientes litorâneos. Outras opções a serem consideradas são as esquadrias de PVC de alta resistência e o vidro tipo blindex com ferragens de aço inox, mas confesso que nunca usei esses dois últimos produtos nas condições citadas e os aspectos estéticos e de integração com o entorno também precisariam ser considerados. O vidro tem sido muito usado e também solicitado por parte dos clientes, mas costumo orientar que o salitre costuma deixá-los embaçados e com aspecto de sujos a maior parte do tempo, fazendo com que a manutenção e a limpeza se torne mais trabalhosa.
Ferragens: Dobradiças, maçanetas, ganchos, suportes, parafusos, e demais ferragens quando necessários devem ser de material que não oxide como aço inox 304 ou até mesmo a prata para evitar que essas peças enferrujem e percam a sua resistência. Fiz um projeto de uma cobertura toda de inox em que os parafusos especificados eram do mesmo material, mas na embalagem veio um “intruso” de ferro que em poucos meses já estava comprometidos – outro cuidado é que metais de diferentes tipos também geram a reação galvânica. Por isso, todo cuidado com a especificação é pouco!
Esta lista acima foi pautada na durabilidade, mas não podemos esquecer outras questões de extrema importância que também valem como temas para postagens inteiras como:
A análise das característica do entorno, tanto nas relações ambientais quanto culturais;
disponibilidade dos materiais nas proximidades do terreno. Acessos, transportes, posicionamento de equipamentos no canteiro, etc.
disponibilidade de equipe de obras na região ou formas de hospedá-los no caso da necessidade do deslocamento da equipe;
Estudos de impacto ambiental que a depender do porte da construção devem ser cada vez mais profundos;
Disponibilização da documentação: Licenças ambientais, alvará de construção junto à prefeitura, Registros ou Atestado de responsabilidade técnica do projeto e obra, dentre outros;
Levantamento das necessidades específicas do cliente. Afinal, cada pessoa é única e precisamos atender da melhor forma possível as solicitações dos moradores da casa;
Levantamento das peculiaridades da região.
E muito mais!
Se você chegou até aqui, já estamos prontos para começar a projetar. Vocês conseguem pensar em mais cuidados relacionados à durabilidade? Deixe aqui um comentário ou me contate através de e-mail caso queira trocar informações, eu irei adorar!